sábado, 10 de agosto de 2013

Meu sonho é ter uma vida de Facebook!

Que mundo lindo, eu curto você, curto muito suas postagens, suas fotos, suas manias, tu me curte, me segue, me preenche com seus elogios forçados, com seu medo de me criticar.
Eu por minha vez sou bom em tudo, perfeito em minhas colocações, amigo de todos, quando lhe vejo na rua sequer te cumprimento, mas no Facebook você é meu amigo.

E assim poderia continuar infinitamente falando do comportamento falso e deplorável a que as relações pessoais foram reduzidas, a uma rede social onde apenas um clique ou caractere pode demonstrar o grau de amizade e sentimento por outra pessoa. A virtualização das relações pessoais está sendo generalizada,tanto que não é tão incomum conhecermos pessoas que terminam e começam relacionamentos na grande rede. O contexto social está mudando, tudo é dito, aceito, acertado, combinado pela grande rede, de tal modo que pessoas que não fazem parte dela se sentem coagidos a participar do meio, percebem que estão defasados no novo comportamento. Numa viagem, curte-se mais as postagens e comentários das fotos de suas férias, do que curtir propriamente sua viagem em suas tão sonhadas férias. A balada não é mais a mesma, se não tirar uma foto pra postar e seguir conectado para verificar as curtidas e os compartilhamentos. A conversa jogada fora numa mesa do bar com amigos é isolada pela conectividade das redes através dos seus smartphones e assemelhados.

O capitalismo vai conseguindo transformar a sociedade que ao mesmo tempo se diz preocupada com a sustentabilidade global, numa sociedade viciada no consumismo exacerbado na era da informação. A rede que poderia ser usada para conhecimento científico, com elevação dos índices de leitura entre os seus usuários, virou uma grande privada, onde em raros casos conseguimos obter algo de produtivo e coletivo.

A individualidade do ser, o egocentrismo e a fome insana por reconhecimento, da vontade alimentada pelo hábito de expor à todos e todas o que fez, o que está fazendo e que ainda fará, está transformando humanos em seres limitados, alienados, previsíveis, frios, sem convívio social, como se sua vida fosse num vídeo game, a virtualização da vida.

Meu grande sonho é ter uma vida semelhante a uma vida de Facebook, uma vida onde eu tenha tantos amigos como tenho na rede, uma vida onde muitos deles realmente lembrem do meu aniversário sem precisar acessar a rede, uma vida onde eles conversem comigo sem precisar abrir o chat, que tudo seja vivido de forma presente, constante, espontânea e principalmente de maneira verdadeira.